terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Mobiliário e Interiores no período Arts and Crafts

RESUMO

Este artigo se propõe a mostrar o que foi o período Arts and Crafts baseando-se nas características da composição dos interiores e do mobiliário. Para isso, faz uma exposição dos principais representantes e uma análise de ambientes característicos desse período, o que nos mostra que foi um movimento muito representativo e que permanece até hoje, mesclando-se me ambientes contemporâneos.

Introdução

De origem inglesa, o movimento Arts and Crafts teve início na segunda metade do século XIX com grande influência do escritor John Ruskin e do designer e poeta William Morris. O ideal deste movimento era trazer de volta o estilo medieval, livrando-se assim da maçante modernidade e mecanicidade que dominava a criação artística da época, para isso houve uma valorização do artesanato, da manufatura. A intenção era que cada pessoa produzisse algo para sua própria casa, sendo assim mais valorizado e reconhecido, pois acreditava-se que ali estava a verdadeira arte.



O Arts and Crafts defendia o artesanato criativo em oposição à produção em série e tentava aproximar, sem distinções, artista e artesão. Durante o movimento, associações de artistas foram criadas com o objetivo de fazer um trabalho conjunto, apresentando trabalhos originais executados com meios de produção manuais.



Apesar de pouco tempo de duração, este movimento deixou um grande legado que influenciou vários movimentos subseqüentes à ele como o art nouveau e a Bauhaus. Este, assim como o Arts and Crafts, acreditava que o ensino e a produção do design deveria ser organizado em associações ou grupos de artesãos e artistas liderados por um mestre, que na Idade Média eram chamadas de guildas.



O Arts and Crafts teve um grande renascimento nos anos 90 e continua sendo além de um estilo, uma filosofia. É possível observar uma mescla do estilo medieval em ambientes modernos, os móveis do Arts and Crafts combinam com ambientes atuais, criando uma atmosfera agradável e confortável.

Principais Representantes

John Ruskin (1819-1900) nascido em Londres, grande filósofo e escritor tinha grande influencia sobre os intelectuais do período vitoriano. Como um dos precursores do movimento Arts and Crafts, tinha o ideário de inserir a arte na vida diária do povo.
As idéias de Augustus W. Northmore Pugin (1812 - 1852) sobre a grandeza do medievalismo diante do pouco valor das criações modernas tiveram grande influência sobre o pensamento de Ruskin. Apesar de sua formação filosófica se tornou mais conhecido pelo seu trabalho como crítico de arte e pelos estudos sobre arquitetura e suas influências na sociedade.


William Morris (1834-1896) escritor inglês, socialista e reconhecido designer, foi o principal líder do movimento Arts and Crafts. Era defensor da idéia de “arte feita pelo povo e para o povo”, tinha a pretensão de criar objetos belos e baratos tornando a arte acessível para todos. Infelizmente essa vontade não se concretizava, pois suas produções quase sempre se tornavam objetos caros e acessíveis somente à minoria dominante.





Seus projetos e desenhos eram destinados à confecção de papéis de parede, tapetes, carpetes e mobiliários. As formas de seus trabalhos eram retiradas da formas da natureza e escolhidas de acordo com as superfícies às quais seriam utilizadas.






Aplicação da estampa “Tulip and Lily” de William Morris em tapeçaria.











“Poppy”, um dos primeiros trabalhos de William Morris.





Uma das principais construções do movimento, a Red House, localizada na Inglaterra, foi projetada por William Morris e pelo arquiteto Philip Webb. Datada de 1859, esta casa foi feita para que o próprio Morris morasse com sua esposa. Construída com tijolos vermelhos, a casa é um exemplo dos preceitos pregados por Morris no Arts and Crafts, sendo que todo o interior e exterior foi projetado e desenvolvido por ele.




O projeto de arquitetura é uma mistura da arquitetura domestica inglesa com elementos góticos como telhados inclinados e arcos em ogiva. O interior em sua maioria foi projetado e executado por Morris de forma artesanal, com uma escolha minuciosa dos materiais a serem utilizados.


Os vitrais da casa foram feitos por Edward Burne-Jones.



William Morris tinha a intenção de, com sua própria casa, mostrar que era possível a produção de objetos funcionais, produzidos manualmente, que apesar de sua simplicidade ainda mantinham a qualidade necessária para que se tornassem totalmente usuais e necessários.




Interiores

Uma das características mais marcantes do Arts and Crafts é a lareira na sala de estar, praticamente em todos os projetos ela está presente. Normalmente feita de tijolo ou de pedra tem a função de criar um ambiente aconchegante, propício para receber convidados e familiares.
O uso da lareira na sala de estar que é separada da sala de jantar por portas no estilo francês, também muito utilizadas no Arts and Crafts.
Assim como as lareiras, os móveis embutidos eram quase que obrigatórios em uma construção típica do Arts and Crafts. Armários, bancos, cristaleiras, todo tipo de mobiliário podia ser construído dessa forma, e sempre em madeira que conferia ao projeto o tom mais rústico, artesanal do período.













Dois exemplos de móveis embutidos: um bando construído na sala se estar próximo à lareira e um armário utilizado para guardar livros.



O tom sempre mais escuro, lembrando madeira, das pinturas e papéis de parede era intencional, uma vez que o Arts and Crafts tinha a intenção de representar os tons naturais da terra.







Os detalhes eram muito focados nesse período: vitrais e pinturas nas paredes que pareciam verdadeiras obras de arte eram, muitas vezes, o diferencial do ambientes que sempre tinham uma planta ou flor natural como ornamento, reforçando a idéia da natureza presente dentro de casa.








A iluminação dos ambientes, como não poderia deixar de ser, se valia da luz natural aliada à luz artificial, o que criava um ambiente mais confortável e aconchegante.



Nesse ambiente é possível observar a utilização da luz natural juntamente com a artificial. A luz da janela sendo amenizada pela cortina em tom claro e as luzes da lareira e luminárias servem para ressaltar o mobiliário e os detalhes do ambiente, como os potes que também eram característicos da época por serem objetos artesanais.


Mobiliário


Os móveis, em sua maioria, eram em madeira feitos artesanalmente mantendo o estilo rústico e natural. Nos estofados eram utilizados as estampas características do movimento, com elementos da natureza, como os desenho de Morris.








Uma sala de estar com móveis em madeira estofados revestidos com tecido estampado ao redor de uma lareira construída em pedra: ambiente típico do período Arts and Crafts.













Nesta sala de jantar, móveis em madeira, cadeiras bem rústicas e ainda cristaleiras que eram usadas para exibir a louça da casa que, assim como os outros utensílios, deveriam ser feitas artesanalmente e com o máximo de detalhes possíveis.

















Um armário embutido na sala de jantar, usado para guardar livros.













Um quarto que utilizou como divisão a porta no estilo francês. Pode se observar o uso de cortinas para amenizar a incidência da luz.















Banheiro que também foi decorado com tons escuros, o que não era comum na época. Observa-se também a presença de plantas em todos os ambientes.












Conclusão
O Arts and Crafts foi sem dúvida um movimento importante para a arquitetura e o design, uma vez que se propôs a ir contra a produção em massa de móveis e artigos decorativos. Foi um movimento que prezava pela qualidade dos artigos produzidos, mesmo que os materiais fossem de extrema simplicidade. Simplicidade essa que era um dos preceitos do movimento, pois como tinha a intenção de fazer a arte se tornar acessível a todos não poderia ter como elementos básicos materiais muito elaborados. Por isso mesmo se voltava para a natureza e para o que ela oferecia de inspiração para os artistas/artesãos.
Por mais que não tenha conseguido conciliar a produção artesanal com a produção em massa, deixou seu legado e foi inspiração para que outros movimentos a fizessem, tornando-se assim um movimento de grande influência que ainda pode ser utilizado na decoração de ambientes contemporâneos, sem que estes percam suas características.
Referência Bibliográfica:

DAVEY, Peter. Arts and Crafts Architecture. Londres : Phaidon, 1997.
RUST, Robert; TURGEON, Kitty. Arts and Crafts. New York : Friedman/ Fairfax Publishers, 1997.


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